Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

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Concentração de nurientes em mudas de maracujazeiros amarelo e roxo irrigadas com águas salinas e uso de urina oxidada de vaca - I
Gislaine dos Santos Nascimento, Ana Karoliny de Assis Medeiros, Glêysla Hévilla Dantas Moreira, José Lucínio de Oliveira Freire

Última alteração: 2021-11-25

Resumo


1 Introdução

O maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims.f. flavicarpa Deg.) é uma das mais importantes culturas agrícolas do Seridó e Curimataú paraibanos, no entanto o maracujazeiro-roxo (Passiflora edulis Sims) ainda tem a sua expansão incipiente. Em muito dos casos, os produtores de maracujá dessas microrregiões enfrentam entraves quanto à maximização de seus sistemas produtivos, dos quais pode-se destacar o uso de águas com restrições quanto à salinidade e a busca por fontes alternativas de nutrientes de base agroecológica. Como se não bastasse esses impasses que dificulta principalmente a produtividade das culturas, a região do semiárido apresenta a maior parte das suas reservas hídricas com elevados teores de sais, comprometendo a formação das mudas, o crescimento das plantas, a produtividade, a qualidade da produção e os teores de nutrientes foliares. Pequeno et al (2014) consideram que os efeitos da salinidade sobre o crescimento das plantas refletem-se no acúmulo de matéria seca, bem como na composição mineral dos órgãos, os quais, em conjunto, podem levar as mesmas à morte. E isto parece ser um importante fator limitante, tendo em vista que a muda é um dos insumos que mais afeta o sucesso dos empreendimentos agrícolas da cadeia frutícola. Com isso, pelas exposições dos problemas acima mencionados, este estudo objetivou avaliar os teores de NPK em mudas de maracujazeiros amarelo e roxo irrigados com águas salinas e uso de urina oxidada de vaca como fertilizante em cobertura.

2 Materiais e Métodos

O experimento foi realizado em viveiro telado no Setor de Produção Vegetal da Coordenação de Agroecologia, do IFPB, Campus Picuí - PB. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado com os tratamentos distribuidos no arranjo fatorial 2×2×2, correspondentes a dois níveis de condutividade elétrica da água de irrigação (0,5 dS m-1 e 3,5 dS m-1), duas concentrações de urina oxidada de vaca (0,0% e 5,0%) e duas variedades de maracujazeiro (amarelo e roxo) e 10 repetições.

O substrato constou de uma mistura de três partes de um Neossolo Regolítico e uma parte de esterco bovino curtido. Os níveis de salinidade da água de irrigação foram obtidos com base nos procedimentos metodológicos sugeridos por Freire et al. (2015), a partir da diluição de uma água de poço fortemente salina (CE = 11,9 dS m-1) e uma água de baixa salinidade (0,01 dS m-1) condutividade desejadas (0,5 e 3,5 dS m-1).

A urina oxidada de vaca utilizada proveio do sítio Baixinho, no município de Nova Palmeira, PB, sendo depositada em galões plásticos devidamente desinfetados, submetida à fermentação e mantida lacrada por um período de quatro dias, antes da primeira aplicação, para a degradação dos microrganismos. A aplicação da urina foi realizada a cada sete dias e na dosagem de 70 mL por aplicação, com tratamentos iniciados logo no primeiro dia do plantio das sementes.

Durante a instalação do experimento, as mudas de maracujazeiro amarelo e roxo foram produzidas em tubetes com capacidade para armazenar 280 cm3 de solo. A semeadura foi realizada diretamente nos recipientes, com uso de duas sementes e desbaste realizado cerca de oito dias após a emergência das plântulas. As dotações hídricas foram efetuadas com uma frequência média de dois dias.

Ao final do experimento, foram coletadas amostras individuais da 4a e 5a folhas sadias a partir do meristema apical (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997) de cada planta para avaliação do seu estado nutricional (nitrogênio, fósforo e potássio). O conteúdo de N foi determinado por digestão com ácido sulfúrico, enquanto que o P e K foram determidados por espectrofotometria de absorção atomica e espectrofotometria de chama, conforme descrito por Teixeira et al. (2017).

Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste “F”, processados utilizando o software estatístico SISVAR 5.6®, com comparações de médias feitas pelo teste F aos níveis de 1% e de 5% de probabilidade (FERREIRA, 2011).

3 Resultados e Discussão

Os resultados deste estudo demonstraram diferenças significativas para o conteúdo de N no tecido foliar de ambas as espécies de maracujazeiros estudadas (Figura 1), com maiores valores encontrados em mudas de maracujazeiro-roxo (18,9 g kg-1) em comparação à espécie de maracujazeiro-amarelo (16,9 g kg-1).

 

Figura 1: Teores foliares de Nitrogênio (N) em mudas de maracujazeiro-amarelo e roxo.

*Médias seguida de mesmas letras não diferem entre si pelo teste F a 5% de probabilidade.

Efeitos positivos também foram observados para esta variável quando se utilizou o insumo orgânico (Figura 2), aplicado via solo e, quando submetidas à irrigação com água de condutividade elétrica de 3,5 dS m-1 (Figura 3), apresentando acréscimos de 10,6% e 21,6% com uso de urina de vaca e água de alta salinidade, em comparação aos tratamentos sem o uso do insumo e água não salina, respectivamente.

 

Figura 2: Teores foliares de Nitrogênio (N) em mudas de maracujazeiros submetidas à aplicação de urina de vaca.

*Médias seguida de mesmas letras não diferem entre si pelo teste F a 5% de probabilidade.

 

Figura 3: Teores foliares de Nitrogênio (N) em mudas de maracujazeiros submetidas ao uso de águas salinas.

*Médias seguida de mesmas letras não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Conforme Bertani et al. (2019), as mudas de maracujazeiro são supridas adequadamente com nitrogênio quando o tecido foliar apresenta, respectivamente, teores de 21,0 e 26,0 g kg-1, respectivamente. Com isso, os resultados dos  teores de N nos  tecidos foliares das  mudas de maracujazeiros (Figuras 1, 2 e 3) são deficitários.

Com relação aos teores de P, e conforme os resultados apresentados na Figura 4, observou-se um decréscimo na ordem de 7,7% no tecido foliar das mudas de maracujazeiros quando se utilizou irrigação com água de 3,5 dS m-1. Os teores de P total na folha foram de 3,25 e 3,00 g kg-1, entre os respectivos tratamentos sem e com água salina. Esse resultado pode ser explicado, em partes, pela baixa disponibilidade deste elemento na solução do solo, devido a formação de precipitados de cálcio em condições de pH alcalino (HASAN et al., 2016).

 

Figura 4: Teores foliares de Fósforo (P) em mudas de maracujazeiros submetidas ao uso de águas salinas.

*Médias seguida de mesmas letras não diferem entre si pelo teste F a 5% de probabilidade.

 

O aumento da condutividade elétrica da água de irrigação promoveu uma redução nos teores foliares de potássio (K) (Figura 5) em ambas as cultivares de maracujazeiros estudadas, divergindo dos observados por Souza et al. (2017) avaliando diferentes níveis salinos sobre os teores foliares de K em mudas de mogno, respectivamente. Sob condições de irrigação com água de maior teor salino, as mudas de maracujazeiro-amarelo e roxo apresentaram valores médios respectivos de 18,7 e 18,0 g kg-1 (sem urina), inferiores em 26,1% e 28,8% aos observados sob condições de irrigação com água de baixa salinidade. Estes resultados se assemelharam aos observados nos tratamentos com uso da urina, em que, o conteúdo de água salina promoveu uma depleção de 25,7% e 10,3% nos teores foliares de K nas cultivares de maracujazeiros.

 

Figura 5: Teores foliares de Fósforo (P) em cultivares de maracujazeiro-amarelo e roxo, submetidas à aplicação de urina de vaca e irrigação com águas salinas.

*Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre as diferentes cultivares, mesma salinidade e mesma concentração de urina; mesmas letras minúsculas dentro da mesma cultivar, mesma salinidade e diferentes concentrações de urina; mesmas letras gregas dentro da mesma cultivar, entre diferentes salinidades e mesma concentração de urina não diferem entre si pelo teste F (p<0,05).

 

  1. 4. Conclusões

 

Os teores foliares de N em mudas de maracujazeiro-amarelo foram superiores aos de maracujazeiro-roxo. A aplicação semanal de urina oxidada de vaca eleveu o conteúdo de N foliar. O uso de água salina limitou a absorção de P e K, mas aumentou a de N pelas plantas.

Referências

BERTANI, R. M. A. et al. Doses de nitrogênio no desenvolvimento de mudas altas de maracujá amarelo. Revista de Agricultura Neotropical, v. 6, n. 1, p. 29-35, 2019.

FERREIRA, P. A.; GARCIA, G. O.; NEVES, J. L. L.; MIRANDA, G. V.; SANTOS, D. A. Produção relativa do milho e teores folheares de nitrogênio, fósforo, enxofre e cloro em função da salinidade do solo. Revista Ciência Agronômica, v. 38, n. 1, p. 7-16, 2007.

FREIRE, J. L. O. et al. Teores de micronutrientes no solo e no tecido foliar do maracujazeiro-amarelo sob uso de atenuantes do estresse salino. Agropecuária Técnica. v. 36, n. 1, p.65-81; 2015.

MALAVOLTA, E., VITTI, G.C., OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas, princípios e aplicações. 2.ed. Piracicaba: POTAFOS, 1997.

PEQUENO, O. T. B. L. et al. Fitoextração de sais através de estresse salino por Atriplex nummularia em solo do semiárido paraibano. Revista Saúde e Ciência, p. 37-52, 2014.

SOUZA, R. S. et al. Concentração de macronutrientes e de sódio em mudas de mogno submetidas ao estresse salino. Nativa, v.5, n.2, p.127-132, 2017.

TEIXEIRA, P. C. et al. Manual de métodos de análises do solo. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 2017.

 

 


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