Tamanho da fonte: 

A Literatura suscita não apenas reflexões e questionamentos acerca de nossas vivências individuais, mas também de tudo o que envolve o homem, de maneira geral. Segundo Antonio Candido, em seu texto Direitos humanos e Literatura (2011), esta manifestação artística, mediante sua natureza ficcional e de fabulação, atua no caráter e formação do sujeito, nos humaniza e nos leva a viver as mais distintas realidades. Nesse mesmo sentido, a pesquisadora Mìchele Petit (2013, p. 31), em sua obra Leituras: do espaço íntimo ao espaço público, pontua que “a leitura pode ajudar as pessoas a se construírem, a se descobrirem, a se tornarem um pouco mais autoras de suas vidas, sujeitos de seus destinos, mesmo quando se encontram em contextos sociais desfavorecidos”.

Partindo desse entendimento, a autora propõe um olhar destinado à elaboração do que ela chama de “espaços de liberdade”, ou seja, lugares em que os jovens leitores possam ressignificar suas vidas de forma a permitirem-se, por meio da literatura, a uma nova chance para as situações de vida que podem ter sido impostas, uma vez que estamos falando de pessoas advindas de situações adversas.

Seja como distração, entretenimento ou como meio capaz de nos levar à reflexão acerca da nossa frágil condição humana diante de crises e momentos difíceis, a leitura literária se nos afigura como um lenitivo para nossas angústias e dores, levando-nos a ampliar nossa forma de perceber a vida. A situação de muitas pessoas que são forçadas, por diversos motivos, a buscar refúgio em outros países, constitui-se certamente uma situação representativa de dificuldade  e de crise. Pensando nessas pessoas – no caso específico crianças e adolescentes -,  formatamos a presente proposta de intervenção de leitura, cujo objetivo é apresentar uma prática leitora, a partir da obra A menina que abraça o vento, de Fernanda Paraguassu. Esperamos promover uma experiência significativa de leitura, em que seja considerada a expressão da subjetividade e através da qual se efetive uma abordagem marcada pela atenção sensível e pela necessária escuta dos dramas decorrentes das difíceis circunstâncias em que tais crianças e adolescentes encontram-se envolvidos. Neste contexto, o papel do(a) mediador(a) de leitura assume lugar imprescindível e, em função disso, voltar-nos-emos, sucintamente, para alguns aspectos da sua atuação. Após isto, detalharemos a proposta de leitura que pretendemos apresentar.