Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

Tamanho da fonte: 
FERRAMENTAS PEDAGÓGICAS PARA APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO (L2) PARA SURDOS
Ana Maria Zulema Pinto Cabral da Nobrega, Jakeline Romão Santos, Malone Soares de Castro

Última alteração: 2021-11-17

Resumo


 

1 Introdução

Ao longo dos anos, o mundo vem se transformando com a utilização da internet e de novas tecnologias informacionais que se integraram ao nosso cotidiano e exigem diferentes práticas de letramentos, desde a leitura/escrita de uma simples mensagem no SMS, no WhatsApp ou no Telegram, até a leitura/produção de artigos científicos. No entanto, todas essas situações exigem do sujeito protagonista a condição de saber usar a língua escrita nas suas mais diversas manifestações e suportes. O que pode parecer simples para muitas pessoas é uma tarefa desafiadora para os surdos, uma vez que precisam aprender a língua oral sem  o suporte sonoro para auxiliá-los. A não proficiência na leitura e escrita da Língua Portuguesa por parte destes sujeitos pode ser explicada pela realidade na qual estão inseridos e pelo tipo de educação que esta minoria linguística tem recebido ao longo da história. Para entendermos tal problemática faz-se necessária uma breve contextualização da realidade na qual o surdo está inserido. A família é a primeira instituição social da qual a criança participa. É no convívio familiar que ela adquire sua primeira língua, doravante L1. Essa aquisição se dá de modo natural através de interações diversas. Esta instituição é, também, o primeiro espaço de socialização da criança. Segundo Vygotsky (1987), é no convívio familiar que a criança constrói conceitos e adquire princípios e normas sociais, tendo como elemento mediador dessa construção a língua. Entretanto, para as crianças surdas, filhas de pais ouvintes, o que representa a maioria dos casos, essa construção de conceitos fica prejudicada pela ausência de uma comunicação plena. Tal fato acontece porque o surdo e seus familiares não têm uma língua em comum. Estudos de Strobel (2008, p. 32), nesta perspectiva, demonstram que nesses casos é comum a família desenvolver “sinais caseiros”,  um sistema de comunicação que supre a comunicação entre a criança surda e seus familiares, mas não dá conta de abordar aspectos conceituais. Ao ingressar na escola, a criança surda vive a mesma situação, um ambiente linguístico inadequado, onde ela não pode acessar as informações e interagir de modo pleno com as pessoas, pois - mesmo as escolas ditas inclusivas - na sua maioria, não oferecem um ensino bilíngue e o processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa escrita é pautado, de modo predominante, em estímulos auditivos. Tal prática dificulta a aprendizagem da Língua Portuguesa escrita por parte dos  surdos. Esta realidade demanda não só o diagnóstico do nível de letramento de alunos com surdez, mas faz-se necessário pensar e desenvolver metodologias e ferramentas que possam favorecer o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, escrita, como segunda língua – L2 para surdos. Nessa perspectiva, o Projeto de Pesquisa Ferramentas Pedagógica para Aprendizagem da Língua Portuguesa como (L2) para Surdos teve como objetivo identificar o nível de conhecimento que estudantes surdos do IFPB têm acerca de gêneros textuais e desenvolver ferramentas pedagógicas que auxiliem o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, escrita, como L2 para surdos,  visto que é de fundamental importância a inserção destes sujeitos nas práticas de letramentos  para  uma melhor interação com o mundo. Diante de tal realidade, destacamos a relevância  deste Projeto que rompe a barreira do diagnóstico e propõe adaptações didático-pedagógicas numa perspectiva de ensino bilíngue para os surdos.

2 Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida com estudantes surdos, matriculados nos campi do IFPB (Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia da Paraíba) – parecer consubstanciado do Comitê de Ética -  nº 4.495.838.  Para tanto, realizamos, junto às Diretorias de Desenvolvimento de Ensino dos 21 campi que constituem o IFPB, um levantamento do número de surdos matriculados no IFPB. Em seguida, entramos em contato com os estudantes  por meio de mídias digitais. O contato teve como finalidade explicar o objetivo, metodologia da pesquisa e solicitar o preenchimento do TCLE. As etapas seguintes foram implementadas a partir das seguintes ações e suas respectivas estratégias: a)  a coleta de dados se deu por meio de um Questionário aplicado através do Google Forms. O instrumento supracitado exibiu vídeos em Libras abordando diferentes gêneros textuais (poema, piada, fábula). Após a exibição de cada vídeo os sujeitos da pesquisa relacionaram o vídeo que eles assistiram com os títulos dos gêneros textuais. Na sequência, procedemos com a análise dos dados coletados e identificação do nível de conhecimento que os estudantes com surdez tinham acerca dos gêneros textuais apresentados; b) o desenvolvimento da ferramenta pedagógica digital, o sistema Su.Port-L2, que auxiliará o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, escrita, como L2 para surdos. O desenvolvimento do sistema Su.Port-L2 foi dividido em 3 (três) etapas, apresentadas a seguir: 1) a criação do Banco de dados utilizando o software BRmodelo; 2) criação e implementação de arquivos em html, css, php e javaScript; 3) hospedagem do sistema Su.Port-L2 no provedor de hospedagem na web intitulado Hostinger.

3  Resultados e Discussão

A partir dos dados coletados verificamos que todos os colaboradores identificaram o gênero fábula, enquanto que 67% (sessenta e sete por cento) demonstraram dificuldades em reconhecer os gêneros piada e poema. Os dados nos inferem que: 1) a facilidade em reconhecer o gênero fábula pode estar relacionada ao fato de ser um dos gêneros mais presentes nas práticas pedagógicas e o que apresenta maior facilidade de ser representado de forma visual; 2) dentre os textos exibidos, os participantes da pesquisa apresentaram dificuldades em identificar os gêneros  piada e poesia. Tal dificuldade pode estar associada à maior complexidade de se apresentar os dois gêneros de forma visual.

4 Considerações Finais

O Projeto de Pesquisa Ferramentas Pedagógica para Aprendizagem da Língua Portuguesa como (L2) para Surdos teve como finalidade: identificar o nível de conhecimento que estudantes surdos do IFPB detêm acerca de gêneros textuais e desenvolver ferramentas pedagógicas que auxiliem o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, escrita, como L2 para surdos. Os resultados reforçam a necessidade de discutirmos e pensarmos o ensino da Língua Portuguesa, escrita, como L2 para surdos numa perspectiva bilíngue.  A discussão e a implementação de práticas pedagógicas acerca dessa temática continua sendo um desafio a ser superado na realidade educacional brasileira. Apesar das garantias legais, não há aporte didático-pedagógico para o docente da sala de aula regular que recebe alunos com surdez. As dificuldades de identificação dos gêneros textuais poema e piada, apresentadas pelos participantes da pesquisa, reforçam a necessidade do ensino da Língua Portuguesa, na modalidade escrita, como L2 para surdos.  Os dados da pesquisa mostraram que os estudantes surdos participantes do estudo apresentam grandes dificuldades quanto ao reconhecimento e identificação dos gêneros textuais: poema e piada. Destacamos o desenvolvimento do sistema Su.Port-L2 como importante ferramenta pedagógica que facilitará o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa como segunda língua (L2) para surdos a partir do uso de gêneros textuais,  contribuindo com o processo de multiletramentos e participação de sujeitos surdos nos diferentes espaços sociais nos quais circulam.

Referências

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a Cultura Surda. Florianópolis: UFSC, 2008.

VYGOTSKY, Lev. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo. Martins Fontes, 1987.


Texto completo: DOCX