Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

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ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO INSTITUTO FEDERAL DA PARAÍBA NO ACOLHIMENTO DE ESTUDANTES COM QUEIXAS EM SAÚDE MENTAL
Lucivaldo Alves Ferreira, Deyse Morgana das Neves Correia

Última alteração: 2021-11-17

Resumo


 

1 Introdução

A ansiedade e a depressão são duas das queixas em saúde mental mais frequentes em jovens e adolescentes (BORGES; FRANCESCATO; HOEFEL, 2020; BRITO, 2011). Na adolescência, os indivíduos, que se encontram em meio ao processo de formação da identidade, de construção das relações interpessoais e das responsabilidades individuais, se deparam com mudanças físicas, biológicas e psicossociais, o que pode potencializar suas dúvidas, preocupações, desafios e, consequentemente, reatividade emocional e alterações psicoafetivas (GROLLI; WAGNER; DALBOSCO, 2017; PIMENTEL; MÉA; PATIAS, 2020). Assim, a fase da adolescência mostra-se propícia ao acometimento de sintomas depressivos e de ansiedade, por ser uma etapa marcada por instabilidades e inseguranças.

Para Santos et al. (2014), as interações com o meio e o convívio social do adolescente em diferentes contextos são importantes para o ajustamento biopsicossocial na vida adulta, sendo o ambiente educacional um espaço privilegiado de vivência destas experiências. Para Padovani et al. (2014), devido à vulnerabilidade em que se encontram os adolescentes no espaço educacional, há a necessidade de promover a atenção à sua saúde mental, desenvolvendo programas de intervenção que contemplem as suas necessidades e que visem a sua permanência na instituição.

A função dos profissionais da saúde nos espaços educacionais, no entanto, é recente e ainda carece de instrumentos de capacitação para sua atuação. Alguns profissionais apresentam dificuldades de trabalhar educação em saúde, especialmente quando se foca na saúde mental dos discentes. Essa preocupação é nítida e muitos profissionais realizam suas intervenções com base na experiência adquirida, na observação, na atuação empírica e no provável acerto.

Tendo o contexto da atenção à saúde no Instituto Federal da Paraíba (IFPB) como ponto de partida, esta pesquisa visa investigar a atuação da equipe multidisciplinar de saúde da instituição no atendimento a discentes com queixas em saúde mental, com vistas a instrumentalizar os profissionais para a identificação precoce e o acompanhamento de acometimentos de ansiedade e depressão, as duas demandas mais recorrentes dos estudantes (IFPB, 2019).

2 Materiais e Métodos

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e caráter exploratório, sendo finalizada por uma fase aplicada. “Pode-se dizer que as investigações qualitativas têm-se preocupado com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as movimentações, crenças, valores, representações sociais e econômicas, que permeiam a rede de relações sociais (SILVA, 2008, p. 29). De acordo com Gil (2017), as pesquisas exploratórias levam o pesquisador a observar, compreender e familiarizar-se com o fenômeno que está trabalhando. Muitas vezes envolve coleta de dados com pessoas que têm experiência prática com o problema estudado. Já a pesquisa de tipo aplicada está voltada para o estudo de soluções e respostas por meio da vivência de etapas práticas desenvolvidas durante a aproximação do pesquisador com a realidade pesquisada (MARCONI; LAKATOS, 2017).

A primeira etata da pesquisa consiste no levantamento, junto aos profissionais de saúde que atuam no IFPB, sobre sua atuação no acolhimento e acompanhamento dos discentes com queixas em saúde mental, principalmente ansiedade e depressão. Nesta coleta de dados, busca-se identificar as reais necessidades dos profissionais ao se depararem com estes casos. Por meio de um questionário, intenta-se identificar as estratégias utilizadas, as dificuldades enfrentadas e também algumas indicações para o desenvolvimento de um software gerador de dados e informações relevantes à saúde mental dos estudantes, elaborado na segunda fase da pesquisa.

Este software funciona como um prontuário digital para inserção de informações pessoais e familiares de caráter socioeconômico e o histórico de saúde, e também dispõe de um inventário de sintomas de ansiedade e de depressão, servindo como um aparato tecnológico para o acolhimento e para a identificação precoce desses problemas de saúde. Também integra o software uma aba de registro de encaminhamentos internos (setor de assistência estudantil com psicólogos e assistentes sociais) e externos (rede de atendimento psicossocial do município). Desta forma, busca-se instrumentalizar a atuação dos profissionais de saúde do IFPB para melhor compreensão e acompanhamento do processo saúde-doença dos estudantes, possibilitando a continuidade da assistência durante sua permanência na instituição.

A terceira e última fase da pesquisa corresponde à aplicação do software com os estudantes da Educação Profissional de nível médio do IFPB Campus Monteiro, visando testar a eficácia do instrumento no apoio ao trabalho do setor de saúde, confluindo para uma varredura de possíveis casos de ansiedade e depressão entre os estudantes.

3 Resultados e Discussão

A pesquisa encontra-se em fase inicial, de modo que, conforme Prodanov e Freitas (2013), faz-se importante a realização prévia de uma pesquisa bibliográfica sobre a temática pesquisada, com vistas ao enriquecimento do conhecimento teórico, servindo de apoio para melhor compreensão dos trabalhos já realizados e auxiliando para detecção de novas propostas e formulações nas variáveis.

Neste sentido, discute-se neste item a problemática da ansiedade e da depressão na adolescência, com ênfase na identificação dos sinais e sintomas percebidos no ambiente escolar. Segundo Silva et al. (2019), a adolescência é apontada como um período da vida vulnerável para a experiência do sofrimento psíquico, a partir do qual surgem os processos psicológicos e suas alterações que, de acordo com a frequência e a sintomatologia, trazem prejuízos à saúde. Os autores ainda destacam que a manifestação da ansiedade e da depressão em adolescentes está cada vez mais presente em nossa sociedade, não apenas no Brasil, mas se tornou um problema mundial a ser enfrentado.

Por isso, se faz necessário reconhecer os sinais e sintomas cada vez mais cedo, garantindo maior resolutividade das queixas em saúde mental identificadas nos jovens e uma maior contribuição na construção de novos modos e práticas de atenção. Daí também a importância do papel da escola na observação dos discentes, tendo em vista a compreensão de que os jovens necessitam ser vistos em suas individualidades.

Sabe-se que os adolescentes passam grande parte do tempo no ambiente escolar. Assim, vivem cercados de colegas, professores e equipe multidisciplinar. É sabido também que, durante sua permanência na instituição, o jovem elenca uma pessoa ou um grupo a quem se assemelha, desenvolvendo assim um contato maior, com quem, por vezes, consegue externar suas dificuldades e seus problemas. Dessa forma, evidencia-se a importância dos profissionais da escola no dia a dia dos jovens. Quando esse contato se dá de forma processual, segura e acolhedora, provavelmente, o adolescente sente confiança e consegue, em algum momento, esboçar, por meio de atitudes, ou mesmo verbalmente, suas preocupações, medos, anseios e angústias de forma espontânea e voluntária.

Para Tardivo et al. (2019), a escola, a sociedade e o poder público precisam estar envolvidos na busca de caminhos e possibilidades que propiciem uma qualidade de vida aos adolescentes de forma que os coloquem como seres que necessitam ser vistos, acolhidos e ouvidos.

A importância da escola junto à família têm sido algo desafiador no acompanhamento de casos de adolescentes com queixas em saúde mental. Muitas vezes, há medo, despreparo e ou tabu dos professores ao lidar com situações desta natureza. Por parte da família, existe a dificuldade em compreender que o adolescente tem seus sentimentos, desejos, medos e traumas. Muitos não acreditam que os transtornos mentais podem habitar seus lares, seja por desacreditarem no adoecimento do público jovem ou mesmo por tratarem as queixas dos filhos como birra, vitimização e ou tentativa de chamar atenção.

Existem alguns sinais que os jovens apresentam quando estão passando por algum problema de cunho emocional e mental: irritabilidade constante, rebeldia, choro, vazio existencial, isolamento, apatia, alteração brusca de humor, introspecção, insatisfação em executar as atividades que antes lhe davam prazer. Quando se observa no ambiente escolar, estes sinais e sintomas se associam a: queda do rendimento escolar, desprezo para com o curso, rebeldia com os colegas e professores ou isolamento dos grupos, sonolência, automutilação, inquietação em sala de aula, pânico quando se fala em violência e ou abuso sexual, dentre outros comportamentos.

Os profissionais da educação precisam ser capacitados para enxergar os sinais informados e desenhados pelos adolescentes no ambiente escolar. Quando se traz para escola o compartilhamento da responsabilidade com a saúde física e mental dos estudantes, encontram-se fatores de proteção: uma escola que acolhe, informa, discute todas as temáticas de forma aberta, presente e responsável. Entende-se que quando os jovens estão conscientes de qualquer problema físico ou mental, em algum momento, conseguem refletir e fazer suas escolhas de acordo com o conhecimento adquirido. Assim, o risco de exposição a certos comportamentos, prejuízos e atitudes será minimizado.

4 Considerações Finais

Diante do exposto, o presente estudo traz uma reflexão a respeito da atenção à saúde mental dos adolescentes, principalmente na identificação dos sinais e sintomas característicos de ansiedade e depressão no contexto escolar. A escolha deste campo justifica-se, especialmente, por entender o papel da escola na vida do estudante como um espaço de garantia de seus direitos e cuidados, visando a produção de conhecimento e o bem estar. Portanto, identificando precocemente as queixas e o agravamento de sintomas psíquicos pode-se colaborar para o acompanhamento adequado visando o desenvolvimento integral dos estudantes.

Agradecimentos

Esta pesquisa vem sendo realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica do IFPB, de modo que se dirige agradecimento a esta instituição.

Referências

BORGES, C.; FRANCESCATO, R.; HOEFEL, A. L. Fatores associados à presença de sintomas de ansiedade e depressão em acadêmicos de diferentes cursos de um centro universitário no sul do país. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo, v. 14, n. 84, p. 17-28, jan./fev., 2020.

BRITO, I. Ansiedade e depressão na adolescência. Revista Portuguesa de Clínica Geral, v. 27, p. 208-214, 2011.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2017.

GROLLI, V.; WAGNER, M. F.; DALBOSCO, S. N. P. Sintomas depressivos e de ansiedade em adolescentes do Ensino Médio. Revista de Psicologia da IMED, v. 9, n. 1, p. 87-103, jan./jun., 2017.

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MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2017.

PADOVANI, R. C.; NEUFELD, C. B.; MALTONI, J.; BARBOSA, L. N. F.; SOUZA, W. F.; CAVALCANTI, H. A. F.; LAMEU, J. N. Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Campinas, v. 10, n. 1, p. 2-10, 2014.

PIMENTEL. F. O.; MÉA. C. P. D.; PATIAS, N. D. Vítimas de bullying, sintomas depressivos, ansiedade, estresse e ideação suicida em adolescentes. Acta Colombiana de Psicología, v. 23, n. 2, p. 205-216, 2020.

PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

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