Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

Tamanho da fonte: 
SAÚDE MENTAL E ENSINO REMOTO: UM RETRATO DOS ESTUDANTES DO IFPB EM TEMPOS DE PANDEMIA
Diana Cristina Silva Santos, Louyse Nunes Dias Novo, Rayanna Pamela de Farias Ferreira, Lidianny Braga de Souza, Lucilla Vieira Carneiro, Iria Raquel Borges Wiese

Última alteração: 2021-11-24

Resumo


SAÚDE MENTAL E ENSINO REMOTO: UM RETRATO DOS ESTUDANTES DO IFPB EM TEMPOS DE PANDEMIA

Área de conhecimento: (Tabela CNPq): 7.07.00.00-1 Psicologia

Palavras-Chave: sofrimento psíquico; discentes;  distanciamento social; Covid-19

 

1  Introdução

Em decorrência da pandemia da COVID-19, causada pelo novo coronavírus, SARS-COV-2, houve uma mudança na organização social. Devido ao alto poder de disseminação e contágio do vírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou medidas de distanciamento e isolamento social, com isso, a saúde mental da população pode ter sido comprometida.

Com base na pesquisa realizada por Wiese et al. (2021) sobre o sofrimento psíquico vivenciado na pandemia, evidenciou-se que há grupos em situação de maior vulnerabilidade, onde destaca-se o grupo de estudantes e jovens. De acordo com o referido estudo, este contexto colabora para o adoecimento mental desta população, tendo em vista a incerteza do futuro. Ademais, em virtude do cenário atual, os sistemas de ensino mudaram completamente o formato das aulas, passando a adotar o ensino remoto, definido como práticas pedagógicas mediadas por plataformas digitais (ALVES, 2020), gerando nos estudantes um momento igualmente atípico e desafiador em suas vidas.

Considerando o estado de pandemia da COVID-19, bem como seus potenciais impactos que transcendem a saúde pública, acredita-se que é importante identificar os processos de sofrimento psíquico vivenciados pelos estudantes no sentido de elucidar como este fenômeno tem se apresentado. Desse modo, esta pesquisa teve por objetivo identificar aspectos da saúde mental dos estudantes do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) em tempos de ensino remoto e pandemia, correlacionando-os à adaptação por parte do aluno a este novo formato de aulas e aprendizagem.

2     Materiais e Métodos

Este resumo é um recorte da pesquisa intitulada “Saúde Mental dos Estudantes do IFPB em tempos de pandemia e ensino remoto”, desenvolvida com estudantes do IFPB que tenham a partir de 18 anos de idade. Tendo em vista a recomendação de distanciamento social, o questionário de pesquisa, construído através da plataforma Google Forms, está sendo compartilhado nas redes sociais (Whatsapp e Instagram) pelas integrantes da equipe, coordenadores de curso, diretores de campi, representantes estudantis, etc., mediante estratégia da técnica Bola de Neve (snowball), podendo o discente responder por qualquer dispositivo que tenha acesso à Internet. Vale salientar que este estudo ainda está em andamento, portanto os resultados aqui apresentados são parciais.

Desse modo, até o presente momento participaram da pesquisa 629 estudantes do IFPB oriundos dos campi presentes nas quatro mesorregiões da Paraíba, sendo 64,6% do sexo feminino e 34,3% do sexo masculino, estando a maioria (63,6%) na faixa etária entre 18 a 29 anos. Quanto ao estado civil, a maior parte (80,1%) afirmou ser solteira, de cor parda (53,3%), religião católica (50,6%) e cuja renda familiar é de até 2 salários mínimos (84,7%). Os participantes responderam o Questionário de Sofrimento Psíquico - Períodos de Crise (WIESE et al., 2021), um questionário sócio-demográfico, bem como questões referentes ao ensino remoto, sendo os dados analisados através de estatísticas descritivas (frequência, média, desvio padrão) e inferenciais (ANOVA).

3      Resultados e Discussão

Os resultados apontaram que a maioria dos discentes, 66% (n=415), está com algum grau de sofrimento psíquico, levando-se em consideração o ponto de corte do instrumento de pesquisa (3 pontos). Constatou-se que alguns aspectos do sofrimento se ressaltam, tendo a questão “dificuldade de concentração” com maior média (M=3,97; DP= 1,32), seguido dos sentimentos de “irritabilidade e mau humor” com média de 3,81 (DP= 1,34), bem como, com a terceira maior média, o item “medo do futuro” (M=3,79; DP= 1,42), conforme apresentado na Tabela 1.

Apesar desses dados, foi observado que o aumento do uso de álcool e outras drogas não tem sido um recurso utilizado nessa amostra. Desse modo, 73,9% (n= 465) dos participantes referiram que não está usando álcool e outras drogas como forma de “escape” frente ao momento presente, sendo o abuso dessas substâncias considerado maléfico para saúde mental.

Nesse sentido, esses dados entram em conformidade com outros estudos (COELHO et al., 2020; COUTINHO et al., 2020; FERREIRA et al., 2020; MAIA; DIAS, 2020; VIEIRA et al., 2020), que constatam que durante a pandemia houve um aumento nos seguintes sentimentos negativos: alterações de humor, estresse, medo, ansiedade, apatia e incerteza, dentre outros, que geram sofrimento psíquico ao discente. Essas sensações são afloradas a partir do isolamento social, tendo em vista que este momento leva a um distanciamento social e somado a isso, conforme nos assegura Junior et al. (2020), este processo de formação acadêmica torna o estudante mais vulnerável emocionalmente, contribuindo, também, para o surgimento dos problemas psicológicos.

 

Tabela 1: Média dos itens do Questionário de Sofrimento Psíquico (QSP)

QUESTIONÁRIO DE SOFRIMENTO PSÍQUICO

MÉDIA

DESVIO PADRÃO

QSP8. Dificuldade de concentração

QSP4. Irritabilidade e mau humor

QSP11. Medo do futuro

QSP3. Tristeza com frequência

QSP7. Sinto-me mais incapaz

QSP9. Sensação de que algo ruim vai acontecer

QSP13. Sinto-me mais angustiado (a)

QSP6. Crises de ansiedade

QSP17.Sinto-me mais sonolento e apático

QSP2. Mais insônia

QSP15. Mudança de apetite

QSP5. Penso mais sobre morte

QSP16. Sinto-me mais desamparando

QSP1. Choro mais frequente

QSP12. A vida piorou consideravelmente

QSP10. Perda do interesse sexual

QSP14. Uso de álcool e outras drogas

3,97

3,81

3,79

3,77

3,57

3,57

3,57

3,52

3,52

3,35

3,22

3,10

3,05

3,02

2,69

2,39

1,58

1,32

1,34

1,42

1,38

1,52

1,47

1,41

1,47

1,50

1,48

1,48

1,56

1,52

1,52

1,43

1,43

1,14

 

Considerando a adaptação dos estudantes ao formato de ensino virtual, conforme descrito na tabela 2, observou-se que a maior parte dos estudantes (3,25%) conseguiu se adaptar a este formato de ensino, mas preferem o formato presencial. Ademais, mesmo após 17 meses de aulas no formato remoto, 26,6% dos discentes marcaram a opção “terrível, não consegui me adaptar”. Por fim, 21,3% dos respondentes afirmaram que conseguiram se adaptar e, inclusive, estão gostando bastante.

Inclusive, quando realizada estatística para ver a relação entre essa adaptação ao formato de ensino remoto e ao sofrimento psíquico verificou-se uma diferença estatisticamente significativa quanto às médias dos grupos pesquisados no QSP [F(2, 626) = 38,06; p < 0,001], denotando a existência de uma relação entre sofrimento psíquico e dificuldade de adaptação ao ensino remoto. Nesse sentido, o grupo que apresentou maior média no QSP foi dos discentes que não conseguiram se adaptar ao ensino remoto e estão achando terrível (M=3,70;DP=0,88), dado bastante preocupante, tendo em vista que ainda se está em período pandêmico e em ensino remoto, sem previsão para normalização do sistema de ensino.

 

Tabela 2. Análise das médias do Questionário de Sofrimento Psíquico em relação à adaptação ao ensino remoto

ADAPTAÇÃO AO ENSINO REMOTO

Frequência

MÉDIA - QSP

p

Terrível, não consegui me adaptar

Prefiro presencialmente, mas consegui me adaptar

Estou gostando bastante e consegui me adaptar

167 (26,6%)

328 (52,1%)

134 (21,3%)

3,70 (DP=0,88)

3,25 (DP=0,05)

2,74 (DP=1,02)

 

0,0001*

* A diferença média é significativa no nível 0,05.

Frente a esse contexto, em concordância com Vieira et al., 2020, a adaptação ao ensino remoto é uma realidade, todavia existem algumas dificuldades relacionadas aos sentimentos de autonomia, automotivação e autodisciplina que tornam o processo de adequação a este sistema de ensino mais desgastante, sobretudo pelo fato de estarmos em momento pandêmico, o que pode gerar um sofrimento psíquico mais acentuado nos discentes.

Por outro lado, a dificuldade de adaptação pode estar relacionada ao ambiente que o estudante está inserido, considerando que o seu local de estudo foi providenciado emergencialmente, invadindo o seu espaço familiar, onde o acadêmico compartilha o acesso à Internet e até equipamento com outras pessoas. Somado a isso, os discentes acabam dividindo a atenção com outras demandas domésticas e estímulos distratores.

 

4   Considerações Finais

Em suma, foi identificado os aspectos da saúde mental dos estudantes do IFPB em tempos de pandemia e ensino remoto, no qual demonstrou que 66% deste público estão com algum grau de sofrimento psíquico. De todo modo, ressalta-se a importância desse estudo para fomentar a criação de estratégias que visem auxiliar os estudantes no enfrentamento do sofrimento psíquico e uma melhor adaptação ao ensino remoto.  Salientamos, mais uma vez, que este resumo é um recorte de uma pesquisa que ainda está em andamento, logo, os resultados aqui apresentados são parciais.

Agradecimentos

Agradecemos a Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação (PRPIPG) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). Agradecemos também a colaboração dos estudantes que responderam o questionário.

Referências

ALVES, Lynn. Educação remota: entre a ilusão e a realidade. Interfaces Científicas. Aracaju, v. 8, n. 3, p. 348-365, 2020. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/educacao/article/view/9251/4047. Acesso em 05 de Agosto de 2021.

COELHO, A et al. Saúde mental e qualidade do sono entre estudantes universitários em tempos de Pandemia da COVID-19: experiência de um programa de assistência estudantil. Research, Society and Development, v. 9, p. 14, Set, 2020. Disponível em: https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/8074.  Acesso em: 05 de Agosto de 2021

COUTINHO, M et al. Quarentena e aulas remotas representações sociais de universitários da saúde. Revista Diálogos em Saúde, v. 3, Jan./Jun, 2020. Disponível em:<https://periodicos.iesp.edu.br/index.php/dialogosemsaude/article/view/282> Acesso em: 05 de Agosto de 2021.

FERREIRA, A et al. COVimpact: pandemia COVID-19 nos estudantes do ensino superior da saúde. Revista de Investigação & Inovação em Saúde, v. 3, n. 1, p. 16, jun. 2020. Disponível em: Acesso em: 05 de Agosto de 2021.

JUNIOR, O et al. Intelecções sobre possibilidades curativas em saúde no campo da interdisciplinaridade. 1.ed. Curitiba: Appris, 2020. Disponível em:<https://riis.essnortecvp.pt/index.php/RIIS/article/view/80> Acesso em: 05 de Agosto de 2021

MAIA, B. R.; DIAS, P. C. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia, Campinas, p. 8, 2020. Disponível em:<https://www.scielo.br/j/estpsi/a/k9KTBz398jqfvDLby3QjTHJ/abstract/?lang=pt> Acesso em: 05 de Agosto de 2021

WIESE, I. R. B et al. Psychological distress and coping in the pandemic scenario of COVID-19 in Brazil. Estudos de Psicologia (Natal), 2021, no prelo.Acesso em: 05 de Agosto de 2021.

 

 


Texto completo: DOCX