Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

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Sofrimento psíquico e uso de psicotrópicos por estudantes do IFPB antes e durante a pandemia
Rayanna Pâmela de Farias Ferreira, Diana Cristina Silva Dos Santos, Amanda Haíssa Barros Henriques, Maria Tereza de Souza Neves, Lidianny Braga de Souza, Iria Raquel Borges Wiese

Última alteração: 2021-11-24

Resumo


Palavras-Chave: saúde mental; Covid-19; discente; psicofármacos

 

1 Introdução

Com a pandemia mundial da COVID-19, a população teve de mudar seu cotidiano. Logo, os sofrimentos causados pelo distanciamento social e, medo do contágio da doença aumentaram o sofrimento psíquico, pois a saúde mental é parte importante de quem somos e como nossas ações são realizadas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2020), o conceito de saúde mental não pode ser totalmente definido, pois a terminologia está inteiramente relacionada à maneira como as pessoas reagem a desafios, exigências, sentimentos, mudanças em sua vida, entrelaçando o seu modo de lidar com os pensamentos e emoções de forma harmônica. Durante a pandemia da COVID-19, que teve seu início em março de 2020, no Brasil, com toda a mudança e os desafios do “novo normal”, especificamente na educação, observou-se um aumento no sofrimento psíquico e uso de psicotrópicos (IQVIA, 2020; WIESE et al., 2021)

Existe uma grande necessidade em saber sobre o sofrimento psíquico, suas causas e também as estratégias corretas para mitigá-lo. O sofrimento pode se manifestar através dos pensamentos, emoções e comportamentos, como a ansiedade, alterações no humor, afetos, comportamento, etc. Desse modo, buscam-se métodos terapêuticos e psicoterapêuticos que podem fazer com que o sofrimento seja minimizado e controlado nas pessoas, sendo um deles o tratamento medicamentoso. Uma preocupação é que o uso dessas substâncias de forma indiscriminada, em longo prazo, em especial os benzodiazepínicos, bem como a automedicação, podem trazer efeitos adversos e causar dependência, prejuízos à memória e concentração, agravo dos sintomas e ineficácia em seu uso para os sofrimentos psíquicos vivenciados (CASTANHOLA; PAPA, 2021).

Frente ao exposto, faz-se a seguinte indagação: o sofrimento psíquico de estudantes aumentou durante a pandemia, levando a um aumento no número de diagnósticos de transtornos mentais e uso de psicotrópicos? Desse modo, o presente trabalho teve como objetivo geral identificar a frequência de diagnósticos de transtorno mental e a necessidade de uso de psicotrópicos antes e durante a pandemia em estudantes do IFPB. Como objetivo específico, comparar os referidos grupos (com e sem diagnóstico, com e sem uso de psicotrópicos) em relação à média obtida no Questionário de Sofrimento Psíquico (QSP).

 

2 Materiais e Métodos

Este resumo é um recorte da pesquisa intitulada “Saúde Mental dos Estudantes do IFPB em tempos de pandemia e ensino remoto”, desenvolvida com estudantes do IFPB que tenham a partir de 18 anos de idade. Tendo em vista a recomendação de distanciamento social, o questionário de pesquisa, construído através da plataforma Google Forms, está sendo compartilhado nas redes sociais (Whatsapp e Instagram) pelas integrantes da equipe, coordenadores de curso, diretores de campi, representantes estudantis, etc., mediante estratégia a técnica Bola de Neve (snowball), podendo o discente responder por qualquer dispositivo que tenha acesso à Internet. Vale salientar que este estudo ainda está em andamento, portanto os resultados aqui apresentados são parciais.

Desse modo, até o presente momento participaram da pesquisa 629 estudantes do IFPB oriundos dos campi presentes nas quatro mesorregiões da Paraíba, sendo 64,6% do sexo feminino e 34,3% do sexo masculino, estando a maioria (63,6%) na faixa etária entre 18 a 29 anos. Quanto ao estado civil, a maior parte (80,1%) afirmou ser solteira, de cor parda (53,3%), religião católica (50,6%) e cuja renda familiar é de até 2 salários mínimos (84,7%). Os participantes responderam ao Questionário de Sofrimento Psíquico - Períodos de Crise (WIESE et al., 2021), um questionário sócio-demográfico, bem como questões referentes à saúde mental (diagnóstico de transtorno psicológico e uso de psicotrópicos) sendo os dados analisados através de estatísticas descritivas (frequência, média, desvio padrão) e inferencial (ANOVA).

Para avaliar os aspectos da saúde mental dos estudantes foi utilizado o Questionário de Sofrimento Psíquico – Períodos de Crise desenvolvido e validado durante a pandemia da COVID-19, o qual permite uma comparação do estado atual de saúde mental (durante a pandemia) em relação ao anterior (antes da pandemia) (WIESE et al.,, 2021). O instrumento é composto por 17 itens, com estrutura unifatorial e coeficiente de confiabilidade de 0,94 (alfa de Cronbach), contendo questões que versam sobre sentimentos, emoções, pensamentos e comportamentos, com escala de resposta do tipo Likert, em graus de intensidade, 1 (Discordo totalmente – Estou igual a antes) a 5 (Concordo bastante). Quanto maior a média obtida pelo participante neste questionário, maior pode ser considerado o seu sofrimento psíquico vivenciado, considerando 3,00 (sofrimento leve a moderado) como o ponto de corte, calculado em função da mediana face à escala de resposta.

 

3. Resultados e Discussão

Conforme descrito na Tabela 1, foi verificado que 38,5% dos estudantes do IFPB que responderam a pesquisa afirmaram possuir algum diagnóstico de transtorno mental, sendo 27,2% e 11,3% diagnosticados antes e durante a pandemia, respectivamente. A partir da realização do teste ANOVA, verificou-se que o grupo com diagnóstico apresentou uma maior média no QSP (M=3,70 e 3,81) do que o grupo sem diagnóstico (M= 2,97), diferença esta estatisticamente significativa [F(2, 626) = 51,42; p < 0,001]. Sendo 3 o ponto de corte, pode-se afirmar que quem tem algum diagnóstico de transtorno mental demonstrou um sofrimento psíquico mais intenso durante a pandemia do que as pessoas sem diagnósticos de transtorno mental.

Na mesma tabela, também se pode identificar o número de respondentes que fazem uso de psicotrópicos antes e após o início da pandemia da COVID-19. Desse modo, 8,7% dos discentes já faziam uso de medicamentos e houve um aumento de mais 7,9% após o início da pandemia. Os grupos que fazem uso dessas substâncias (já faziam ou passaram a fazer na pandemia) também apresentaram um sofrimento psíquico mais intenso, comparando-se as médias obtidas no QSP [F(2, 626) = 18,41; p < 0,001].

Tabela 1: Diagnósticos de transtorno mental e uso de psicotrópicos em relação à Média obtida no Questionário de Sofrimento Psíquico por estudantes do IFPB

 

VARIÁVEIS

Frequência

Média – QSP

p

Diagnóstico de Transtorno mental

Sim (diagnóstico antes da pandemia)

Sim (diagnóstico durante a pandemia)

Não

 

27,2% (n=171)

11,3% (n=71)

61,5% (n=387)

 

3,70 (DP=0,85)*

3,81 (DP=0,970*

2,97 (DP=0,49)

 

 

0,0001

Uso de psicotrópicos

Sim (antes mesmo da pandemia)

Sim (início com a pandemia)

Não

 

8,7% (n=55)

7,9 (n=50)

83,3% (n=524)

 

3,76 (DP=0,88)*

3,82 (DP=0,82)*

3,16 (DP=0,99)

 

 

0,0001


*A diferença de média é significativa ao nível de 0,05

 

Nesse sentido, o Quintiles and IMS Health, Inc (IQVIA, 2020) apontou um crescimento de 26,64% de vendas de medicamentos psicotrópicos em geral e, consequentemente, o aumento no seu consumo. É esperado e comum que durante uma pandemia, as pessoas estejam sempre em sinais de alerta, vivenciando o estress, com medo, preocupados com sua saúde e de seus familiares, e também sobre a falta de controle que temos perante o cenário e o que o futuro irá trazer, provocando um misto de inseguranças que irão impactar diretamente em sentimentos e sensações físicas e psicológicas (FIOCRUZ, 2020).

4. Considerações Finais

Os objetivos do estudo foram atendidos, de acordo com os critérios da pesquisa, isto é, identificar a frequência de diagnósticos de transtorno mental e a necessidade de uso de psicotrópicos e a relação com a vivência do sofrimento psíquico durante a pandemia pelos discentes do IFPB. Os resultados mostraram como o transtorno mental e o uso dos medicamentos durante a pandemia foram aumentando de acordo com toda situação mundial vivida, porém sem descartar que cada indivíduo é um ser único e com respostas emocionais particulares, mesmo vivendo as dificuldades do momento em coletividade.

Tendo em vista os aspectos observados nesta pesquisa, fica claro que deve existir também nas instituições de educação programas de acolhimento aos discentes, orientação psicoterápica e também formas de minimizar os sofrimentos psíquicos, sobretudo num possível retorno presencial das atividades acadêmicas, pois a sala de aula e a vida pessoal são complementos um do outro, e essa relação é refletida em todos os âmbitos da vida.

 

Agradecimentos

À Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação (PRPIPG) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), pelo apoio para que esta pesquisa pudesse ter decorrido de forma exímia e com muitas contruibuições para a comunidade academica.

 

Referências

CASTANHOLA, M. E; PAPA, L. P.  Uso abusivo de medicamentos psicotrópicos e suas consequências. Revista Multidisciplinar Em Saúde, 2(1), 16., 2021. Disponível em https://doi.org/10.51161/rems/1028. Acesso em: 02 de Agosto. 2021.

FARMÁCIA, Conselho Federal de. Venda de medicamentos psiquiátricos cresce na pandemia, 2020. Disponível http://covid19.cff.org.br/venda-de-medicamentos-psiquiatricos-cresce-na-pandemia/ Acesso: 30 Julho. 2021.

FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz. Saúde mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – Recomendações Gerais, 2020. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/documento/saude-mental-e-atencao-psicossocial-na-pandemia-covid-19 Acesso em: 02 de Agosto. 2021.

WHO. Mental health and psychosocial considerations during COVID-19 outbreak. March, 2020.

WIESE, I. R. B; FEITOSA, I., P,; ARAÚJO, P. A. A; ADRIANO, M. S. P. F. Psychological  distress and coping in the pandemic scenario of COVID-19 in Brazil. Estudos de Psicologia (Natal), 2021, no prelo.

 

 


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