Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

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COMO FUNCIONAM AS FAKE NEWS NAS REDES SOCIAIS: USOS DE TRAÇOS DO DICURSO DIGITAL NATIVO PARA DISSEMINAR BOATOS SOBRE A COVID-19
LAFAYETTE BATISTA MELO

Última alteração: 2021-11-17

Resumo


Este trabalho tem duas motivações: 1) investigar características discursivas das fake news, mais do que linguísticas e própriasda interface computacional, mas sem eliminar essas duas últimas e 2) mostrar como as características investigadas podem sertrabalhadas no ensino de modo que se comprenda outras estratégias, além das que são divulgadas mais comumente na Web e nomundo acadêmico. O site do DAGI1 mostra que, para identificar fake news, deve-se ter os seguintes cuidados: 1) avaliar a fonte,o site e o autor para ver se são confiáveis; 2) avaliar a estrurura do texto: muitos apresentam erros de português, uso exagerado denegrito, caixa alta e pontuação; 3) prestar atenção na data da publicação, se é atualizada ou se poderia ser uma notícia que seriadivulgada a qualquer tempo; 4) ler a notícia até o final: às vezes o título não condiz com o texto; 5) ver se não se trata de site dehumor ou ironia e 6) só compartilhar se tiver certeza que a informação é correta.Wardle e Derakhshan (2017) dividem três situações para o que seriam as falsas notícias: informações incorretas são quandoinformações falsas são compartilhadas, mas não há intenção de causar danos; desinformação é quando informações falsas sãodeliberadamente compartilhadas para causar danos e má informação é quando informações genuínas são compartilhadas paracausar danos, muitas vezes movendo informações destinadas a permanecer privadas para a esfera pública. As “fake news” seriamdesinformações deliberadas que emergiram diante de uma crescente desconfiança em relação às instituições e aos meios decomunicação tradicionais, especialmente o jornalismo oficial; tudo isso em meio ao uso intenso da Web e das redes sociais.Nesta pesquisa, vamos avançar um pouco mais, além de identificação das fake news, de suas características linguísticas eestruturais e dos cuidados que devemos ter com elas. Iremos identificar os discursos, mais do que textos, considerando os recursoscomputacionais utilizados para fazer circular esses discursos. De acordo com Maingueneau (2015), compreendemos discursoscomo a ligação de um conjunto de textos com o ideológico, com tomadas de posição e com campos do conhecimento dentro demomentos históricos. Assim, a análise dos discursos não parte de sujeitos empíricos , mas de sujeitos avaliados como inseridos nahistória da humanidade. São utilizadas nesta disciplina a análise qualitativa interpretativa, em que o corpus não é delimitadototalmente a priori para estudo, mas que, durante a coleta de dados, pode ser reformulado em função das decisões interpretativasdo analista. De todo modo, a análise do discurso precisou empregar novas ferramentas conceituais de análise, pois o mundotecnológico impõe que novos problemas tragam novas escolhas metodológicas. Assim, conforme Cabral (2021), as ferramentasconceituais propostas por Maingueneau passaram por um processo evolutivo, que fazem com que vejamos formas diferentes e,com o tempo, mais produtivas para análise: a destacabilidade, como uma antecipação dos enunciados (títulos de texto, porexemplo) e dois regimes enunciativos: a enunciação textualizante e a enunciação aforizante. A primeira está relacionada aohorizonte dos gêneros do discurso (enunciados próprios de entrevistas, aulas, bulas, artigos científicos, dentre outrsos gêneros) ea segunda, ao contrário, rompe com essa lógica, não participando necessarariamente de gêneros. As aforização seriam frases queganham vida própria como slogans , provérbios e frases conhecidas de discursos históricos, retiradas dos seus textos originais.Acontece que essas aforizações ganham vida no mundo da Web, mas com suas destacabilidades e formas próprias da interfacecomputacoinal, desligadas de gêneros como as postagens de redes sociais. Para aprofundar ainda mais como esses enunciados temsuas característica próprias, Paveau (2021) definiu o discurso digital como aquele nativo da Web e com os seguintes traços digitais:compósito – discursos digitais nativos são constituídos por matéria mista que reúne indistintamente o linguageiro e o tecnológico,1 https://sites.ufpe.br/dagi/2020/07/05/como-identificar-fake-news/de forma manifesta (links ou hashtags) ou não manifesta (dependente das tecnologias discursivas); deslinearização – os discursosnão seguem um eixo específico, mas podem ser quebrados por hiperlinks; ampliação – os discursos têm uma enunciação ampliadapor causa da conversacionalidade da Web Social; relacionalidade – os discursos são inscritos em uma relação integrada devido àreticularidade da Web e permitem enunciados coproduzidos com os sistemas; investigabilidade – os discursos se inscrevem emum universo que nada esquece (são localizáveis e coletáveis); e imprevisibilidade – os discursos são parcialmente moldados pelosalgoritmos e pelos humanos na sua forma e no seu conteúdo, o que os torna imprevisíveis para enunciadores e analistas.Neste trabalho, vamos analisar as propriedades de uma fake news propagada na Web, utilizando os conceitos dedestacabilidade, traços digitais e aforização para mostrar peculiaridades discursivas desses tipos de notícia.

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