Eventos Acadêmicos do IFPB, 4º Simpósio de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação

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FORMAÇÃO DOCENTE EM QUÍMICA PARA O ENSINO DE ESTUDANTES SURDOS
Regina de Fátima Freire Valentim Monteiro, Deyse Morgana das Neves Correia, Andrea de Lucena Lira

Última alteração: 2021-11-17

Resumo


 

1 Introdução

Ainda é recente o reconhecimento dos direitos de acesso das pessoas surdas ao ensino na rede regular de ensino e a compreensão de sua diferença linguística associada à sua maneira peculiar de perceber o mundo e seus fenômenos pela experiência visual.

O desconhecimento das particularidades do universo da surdez pelos docentes, durante sua formação, tem causado estranhamentos, conflitos e, por vezes, embates no interior das escolas regulares ditas inclusivas.

É um universo novo pensar estratégias de ensino, elaborar materiais, estabelecer uma relação com novos profissionais - tradutores intérpretes de língua de sinais (TILS) e professores do atendimento educacional especializado (AEE) -, desvendar uma nova língua e a cultura que dela emana. É um desafio para os cursos de licenciatura atuais, os quais dialogam com os futuros profissionais que se encontram em processo de construção de perfil de atuação no ambiente escolar, mas, principalmente, para o exercício dos professores que estão em sala de aula e foram formados antes da incorporação desses temas em suas graduações.

Particularmente neste estudo, o foco está na formação dos professores de Química, por ser um componente curricular considerado complexo para os estudantes sem deficiência e, portanto, pode-se imaginar as dificuldades para estudantes que não ouvem e não falam a língua utilizada na transmissão dos conteúdos.

Neste sentido, importa conhecer as possíveis lacunas na formação dos docentes da Química do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), no intuito de subsidiar a construção de uma proposta de curso de formação continuada que possa colaborar com a construção de saberes necessários para a prática docente.

Considera-se que a construção de reflexões com os professores sobre os elementos envolvidos no processo de ensino às pessoas surdas pode favorecer uma melhor qualidade no ensino de Química para este público.

2 Materiais e Métodos

Este trabalho de pesquisa está classificado dentro da grande área das Ciências Humanas com o enfoque direcionado para o processo de ensino e aprendizagem de estudantes surdos usuários da língua brasileira de sinais (LIBRAS) em escolas do ensino regular denominadas escolas inclusivas. Mas também relaciona-se à área das Ciências Exatas e da Terra dentro deste processo, buscando visualizar as particularidades relacionadas ao ensino da Química, como a representação visual de conceitos, muitas vezes do universo microscópico.

Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantiqualitativa e caráter exploratório, sendo finalizada por uma fase aplicada. A abordagem quantiqualitativa é um “método que associa análise estatística à investigação dos significados das relações humanas, privilegiando a melhor compreensão do tema a ser estudado, facilitando assim a interpretação dos dados obtidos” (HANDEM et al., 2008, p. 97). As pesquisas exploratórias “geralmente proporcionam familiaridade com o problema, ou seja, têm o intuito de torná-lo mais explícito. Seu principal objetivo é o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições” (HANDEM et al., 2008, p. 93). Já as pesquisas aplicadas “são voltadas à aquisição de conhecimentos com vistas à aplicação numa situação específica” (GIL, 2021, p. 26).

Portanto, a primeira etapa da pesquisa consiste em conhecer a percepção dos professores de Química dos campi do IFPB onde há registro de alunos surdos matriculados (Quadro 1) sobre sua formação para o ensino a este público, que componentes contribuíram, quais conhecimentos julgam relevantes à prática em sala de aula. E colher dos professores que já tenham tido a experiência de lecionar a estudantes surdos quais ações consideram exitosas/ positivas e as dificuldades enfrentadas.

 

 

 

 

Quadro 1: Número de estudantes surdos matriculados por campi do IFPB, 2021

Campus

João Pessoa

Guarabira

Campina Grande

Santa Rita

Cabedelo

Monteiro

Picuí

Cajazeiras

Esperança

Itabaiana

Itaporanga

Princesa Isabel

TOTAL

Número de estudantes surdos

21

12

8

6

5

4

4

3

2

1

1

1

68

Fonte: Pró-Reitoria de Assustos Estudantis

 

Em paralelo e complementando a pesquisa com os docentes do IFPB, há o levantamento e análise de documentos relativos à formação nos cursos de licenciatura em Química oferecidos atualmente em instituições de Ensino Superior da Paraíba, com o objetivo de verificar a presença de elementos, como componentes curriculares e ou programas, que possam colaborar com a formação dos docentes no que tange à acessibilidade metologógica para estudantes surdos. Neste levantamento, também busca-se conhecer quais as leis que fundamentam o direito do público surdo à educação e o direcionamento da formação docente.

A sistematização e análise da percepção dos professores de Química sobre a ação de ensino-aprendizagem aos estudantes surdos, juntamente com o estudo do marco legal da inclusão escolar, favorecem a tomada de decisão para o desenvolvimento de um curso, elaborado na segunda fase da pesquisa.

O curso “Checklist: o que preciso aprender para ensinar a pessoas surdas?” possui uma carga horária de 39 horas em 04 módulos na modalidade a distância, com a indicação de vídeos e documentos que possam servir de apoio aos docentes.

A terceira e última fase da pesquisa corresponde à aplicação do curso com os professores de Química do IFPB e de outras instituições de Ensino Técnico Integrado da Paraíba, visando auxiliá-los no preenchimento das possíveis lacunas da formação, colaborando para a construção de uma educação consciente das diferenças e para a instrumentalização com vistas a atender as especificidades dos estudantes surdos.

3 Resultados e Discussão

A pesquisa encontra-se em fase inicial, de modo que, conforme Gil (2021, p. 28), faz-se importante a realização prévia de uma pesquisa bibliográfica “com a proposta de fornecer fundamentação teórica ao trabalho, bem como a identificação do estágio atual do conhecimento referente ao tema”.

No levantamento preliminar sobre a produção relacionada ao tema, foram consultados o catálogo de teses e dissertações e a plataforma de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), utilizando simultaneamente os descritores “ensino”, “Química”, “surdos”, “LIBRAS” e “visualidade”, com o intuito de localizar estudos atentos à particularidade linguística dos estudantes surdos.

No catálogo de teses e dissertações foram localizados 201.834 trabalhos entre teses e dissertações. Com a aplicação dos filtros de tipo (Doutorado, Mestrado e Mestrado Profissional), grande área de conhecimento (Ciências Exatas e da Terra) e área do conhecimento (Química), foram indicados 8.887 teses e 16.230 dissertações. Após a leitura dos títulos e resumos dos trabalhos, verificando aqueles que tratavam da temática deste estudo, foram selecionados 03 teses e 06 dissertações.

No tocante ao levantamento de artigos na plataforma de periódicos da CAPES, na primeira busca, foram utilizados os mesmos descritores do levantamento anterior, mas não foi encontrado nenhum trabalho. Com a retirada do descritor “visualidade”, obtive-se o quantitativo de 16 produções. Após a leitura dos títulos e resumos para verificar o alinhamento ao tema em estudo, foram considerados 05 para compor o corpus desta análise.

Os trabalhos levantados, além de destacarem a escassez de pesquisas na área, trazem como tópicos principais (Figura 1): a relevância do letramento científico, o uso de recursos visuais, a necessidade do conhecimento da cultura surda, a urgência na criação de sinais-termos da Química e a necessidade de divulgação de informações sobre a temática aos docentes. Esta observação reflete a importância da proposta do presente estudo e fortalece o pensamento de produto educacional para um curso de formação.

 

 

Figura 1: Representação dos temas tratados nos trabalhos encontrados na pesquisa.

 

Diante do cenário visualizado a partir do conhecimento sobre os trabalhos desenvolvidos em torno da temática do ensino de Química para surdos, percebe-se a necessidade de promover um melhor conhecimento sobre a cultura surda e sua estreita relação com a experiência visual e de como ela está relacionada com a língua de sinais, o processo de criação de sinais-termos e com a necessidade de utilização de recursos visuais e ou experimentais.

4 Considerações Finais

Espera-se com a aplicação desta pesquisa favorecer a reflexão sobre a prática docente e a necessidade de aquisição de conhecimento para acessibilidade metodológica com vistas à melhoria do processo de ensino de estudantes surdos, colaborando com a promoção da garantia do direito à educação das pessoas surdas e sua participação na sociedade e no mundo do trabalho.

Agradecimentos

Registra-se o agradecimento ao IFPB pela promoção deste evento de grande importância para a socialização das experiências vivenciadas e projeções dos objetivos a serem alcançados pelas pesquisas em desenvolvimento.

Referências

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2021.

HANDEM, Priscila de Castro et al. Metodologia: interpretando autores In: FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de (Org.). Método e metodologia na pesquisa científica. São Caetano do Sul: Yendis, 2008.


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